Alimentação

Alimentos Tóxicos para Aves

8 de agosto de 2016

Publicado por:

Alimentos Tóxicos para Aves

Pessoas e animais, em vários aspectos, são muito semelhantes fisiológica e anatomicamente. No entanto, nossos amigos peludos e de penas podem ser diferentes na forma como eles processam compostos químicos, tanto naturais quanto sintéticos. Estas diferenças podem ser observadas tanto entre o ser humano e outros animais quanto de espécie para espécie. Isto ocorre devido às diferenças enzimáticas e no metabolismo como um todo. Portanto, é imprescindível estar atento aos alimentos que fornecemos aos nossos animais para que os mesmos não apresentem quadros de toxicidade.

 CHOCOLATE E CAFEÍNA

O chocolate contém a teobromina, um alcalóide da família das metilxantinas, também encontrado em chás, cafés e refrigerantes com cafeína. A substância é encontrada principalmente no fruto do Theobroma cacao (Cacaueiro), por isso, esse composto é normalmente encontrado no chocolate. O chocolate amargo contém maior quantidade deste produto químico, chocolates ao leite contém menos, e chocolate branco menos ainda. A ingestão de teobromina é seguro para os humanos, mas potencialmente tóxicos para animais de companhia, mesmo se ingerido em pequenas quantidades.

Ao contrário das pessoas, papagaios e outros animais de estimação, como cães e gatos, não podem metabolizar adequadamente a teobromina presente no chocolate ou quaisquer outros alimentos que o contenham. De acordo com um artigo publicado em junho de 2007 no  “New Zealand Veterinary Journal”, um papagaio-da-Nova-Zelândia ingeriu cerca de 19g de chocolate amargo e faleceu logo em seguida. Foi estimado que o chocolate continha cerca de 250mg/kg de teobromina, ou seja, o papagaio ingeriu cerca de 4,75mg da substância, o que mostra que mesmo pequenas quantidades da substância pode ser fatal para os nossos amigos de penas.

A teobromina é um tipo de estimulante, vasodilatador e diurético. As aves, assim como outros animais domésticos, não metabolizam a teobromina tão rapidamente quanto os humanos, fazendo com que ocorra acumulação da substância no sangue. Uma vez ingerido, pode prejudicar o coração, rins e sistema nervoso central. Os sinais clínicos de intoxicação por chocolate incluem comportamento hiperativo, vômito, diarréia, excreção de cor escura, arritmia cardíaca e convulsões. Sem a intervenção veterinária, dependendo da quantidade e tipo de chocolate ingerido, o animal pode morrer.

Se a ingestão acaba de ocorrer, é possível que o médico veterinário especialista administre medicamentos para induzir o vômito ou regurgitação. Outros medicamentos administrados podem proteger o trato gastrointestinal e evitar ainda mais a absorção de toxinas. O médico veterinário também pode fornecer qualquer cuidado de apoio adicional, como calor, oxigênio, fluidoterapia e anticonvulsivantes, se necessário.

CEBOLA

Os compostos sulfúricos aromáticos encontrados na cebola são conhecidos por causar ruptura de glóbulos vermelhos em pessoas e outros mamíferos. A boa notícia é que acredita-se que o núcleo encontrado nos glóbulos vermelhos de aves oferece alguma proteção. Mas, uma vez que os compostos tem o potencial de causar anemia hemolítica com formação de corpos de Heinz, o melhor é não oferecer cebola ou cebolinha para sua ave.

Sinais clínicos de intoxicação incluem fraqueza, depressão, aumento da frequência cardíaca e respiratória, visto que não há oxigênio suficiente para atingir os tecidos (hipóxia). Vômitos, diminuição do apetite e diarréia também podem ocorrer.

Se você acha que sua ave ingeriu um alimento contendo cebola, contate o seu médico veterinário especialista. Devido ao seu potencial hemolítico, o exame de sangue será aconselhado para verificar se o animal está anêmico, avaliando o hematócrito, que mede a relação entre porcentagem de células vermelhas e porção fluida do sangue. Em casos graves de anemia, pode ser necessário realizar uma transfusão sanguínea. Entretando, na maioria dos casos, é apenas necessário administrar ferro e suplementos do complexo B.

ABACATE

Os sinais clínicos de toxicose por abacate são ocasionados pelo composto persina. Similar a um ácido graxo, a persina é uma toxina fungicida. É segura para humanos, mas até pequenas quantidades podem ser perigosas quando há ingestão pelas aves. A persina é encontrada em todas as partes do abacate, além das folhas e das árvores. A dose letal para periquitos é de aproximadamente 3,5g de abacate, enquanto para calopsitas é de aproximadamente 20g a 30g, segundo o artigo “Avian Avocado Toxicosis”, publicado na revista “Veterinary Technician” em 2013.

Os efeitos adversos da intoxicação em aves é visto dentro de 15 a 30 minutos após a ingestão, podendo se estender até 30 horas. Os sinais clínicos iniciais incluem fraqueza e depressão. Aves afetadas também podem apresentar relutância para se empoleirar, além de dificuldade respiratória.

Se o abacate ainda estiver no trato gastrointestinal da ave, o médico veterinário pode optar por removê-lo por meio de sonda. Medicamentos podem ser utilizados para evitar a absorção de toxinas restantes. Oxigênio e fluidoterapia podem ser necessários.

 SAL

O cloreto de sódio é necessário para manter uma variedade de funções dentro do corpo, incluindo o equilíbrio ácido-base e muitas funções celulares gerais. Além disso, a deficiência de sódio pode causar poliúria (excreção excessiva de líquidos), perda de peso, fadiga e crescimento lento. Entretanto, muitos alimentos saudáveis têm quantidades consideráveis de sal. Sinais de toxicidade incluem polidipsia, aumento do consumo de água e poliúria subsequentes, ou aumento de fluidos nas excreções.

O excesso de sal é excretado pelos rins, portanto, uma ave com disfunção renal moderada pode facilmente consumir doses tóxicas. A privação de água também pode conduzir a toxicidade por sal, visto que os rins não são eficientemente perfundidos para remover o cloreto de sódio.

Mesmo aves com boa função renal podem desenvolver sinais de toxicidade, caso o sal seja consumido em grandes quantidades. Além polidipsia e poliúria, uma intoxicação grave pode levar à insuficiência renal, subsequente acúmulo de fluidos corporais (ascite), sinais neurológicos e insuficiência cardíaca, levando à morte.

 Carolinne Dantas
Discente de Medicina Veterinária
Presidente do Grupo de Estudos em Toxicologia e Farmacologia Veterinária da Universidade Potiguar
Administradora, designer e redatora do Diário de Um Papagaio
E-mail: carolinnedantas@gmail.com
Facebook: fb.com/DantasCarolinne
Instagram: carolinnedantas

 

Fundadora do Diário

error: Conteúdo protegido