Viver com um Papagaio é sempre tão fofo?
Este texto foi escrito pensando em você que se apaixona a cada vídeo ou foto fofa que vê na internet, cai de amores e determina: “Eu quero um Papagaio (ou cacatua, ou arara…)!
E me vem imediatamente as perguntas na cabeça:
-Será que essa pessoa tem ideia do que é ter uma ave, em especial um psitacídeo em casa?
-O que ela idealizou como viver com uma ave dessa, será que pensou no clássico ‘Piu-piu” em sua gaiola dourada balançando alegremente?
-Será que supôs que um saco de ração e um pote de água resolvem?
-Será que a maioria está preparada para ter um animal desse em casa?
-O que sabem sobre eles?
É possível viver com um animal desses em casa, não é o ideal, não é o lar deles, e nem atende a 100% de forma plena suas necessidades ou o propósito para o qual foram criados.
A notícia boa, é que é sim possível viver com eles de maneira plena, proporcionando bem-estar e uma vida digna e saudável, mas não posso deixar de mencionar que o que muita gente ignora são os problemas comportamentais comums em aves pets, em especial os psitacídeos. Difícil encontrar um tutor que ao longo de sua vida com a ave não tenha experimentado alguma situação de problema comportamental como gritos insistentes, ataques, bicadas, arrancamento de penas, destruição de objetos como comedouros e até o viveiro inteiro. Neste ponto entra fatores da conjuntura do nosso país, falta de informação sobre estes problemas, pouco acesso da maioria a profissionais especializados na área e falta de condições financeiras de muitos para pagar o tratamento adequado. Resultado disso: Um número alto de tutores que não sabem lidar com a situação e optam por vender, doar ou abandonar. É importante ressaltar que normalmente os problemas comportamentais são causados pelo próprio homem que muitas vezes não consegue compreender as necessidades de sua ave, fornecendo um ambiente sem estímulos ou inadequados.
Ainda lembro de um post ano passado que me chocou bastante, dizia assim:
“Minha arara escapou aqui do décimo andar, onde moro tem mata perto, espero que ela seja feliz lá!”
Pode ser chocante, mas muitas aves soltas e a posterior encontradas, foram irresponsavelmente soltas pelos tutores porque “cansaram” ou não sabem lidar com a situação.
Antes de trazer um Papagaio pra casa (no termo papagaio incluímos todos os psitacídeos araras, cacatuas, jandaias, periquitos e etc.), é importante saber que:
1.Eles sujam muito, faz parte de sua natureza remexer e jogar a comida no chão, as fezes também são outro problema;
2.A limpeza diária é fundamental para garantir um ambiente limpo e saudável evitando doenças;
3.Eles vivem em bando, apreciam e precisam de companhia, logo, se pensa em deixa-lo por longas horas trancado numa gaiola é melhor não ter, o risco de desenvolver problemas relacionados ao stress de confinamento é bem alto, ele precisa de horas solto, e integrado ao ambiente da casa, uma casa segura, com locais em vários cômodos para que eles possam pousar e interagir com sua família humana é desejável;
4.Diversão e distração são necessários, digo até fundamentais, na natureza estão ocupados a maior parte do tempo com alguma atividade, o tédio também leva a quadro de stress, desse modo, brinquedos devem fazer parte dos itens que precisam ser adquiridos e substituídos constantemente, seja para rodizio ou reposição por quebra;
5.Eles precisam de alimentação adequada para cada espécie, todos são aves, mas cada um com sua particularidade e cardápio próprio, verifique se ração extrusada de boa qualidade, petiscos, sementes, legumes , verduras e frutas cabem no seu orçamento;
6.Fornecer um ambiente seguro, telado que proporcione a ave fazer voos é um Up em sua qualidade de vida, elas foram projetadas para voar, todo seu organismo pede isso, muito além do bem-estar físico o voo dá segurança, alegria e confiança a ave;
7.Se sua ave se comportar mal tenta entender o que está acontecendo, o mesmo comportamento (certo ou errado) pode significar várias coisas, observar a ave, contextualizar com o momento e tentar compreender o que ela está tentando dizer vai facilitar muito a convivência, muitas vezes uma bicada não é agressividade e sim um alerta ou pedido de ajuda, uma demonstração de desconforto, devemos sempre lembrar que os bichos não tem natureza cruel, não machucam por diversão, procure entender e corrigir com amor;
8.Elas precisam de muito tempo dedicado, para carinho, brincadeiras ou simplesmente estar junto, então antes de trazer uma fofura de penas para casa pense se esse “tempo dedicado” diário existe, e lembre, uma ave, é um projeto de em média 60 anos ou mais;
9.Veterinários- as aves quando bem cuidadas dificilmente adoecem, mas se adoecer é importante saber onde levar, infelizmente nem todas as cidades dispõem de veterinário especializado em aves, muitas vezes isto vai te obrigar a se deslocar para outra, outro ponto que precisa ser dito é que devido a investimentos extras em aperfeiçoamentos na área, os honorários de profissionais da área de silvestres e exóticos costuma ser maior que os de gato e cachorro;
10.Eles exigem supervisão- Curiosos, habilidosos e dotados de poderosos bicos, são os candidatos perfeitos aos mais incríveis e impensáveis acidentes domésticos, sem falar na quantidade de objetos destruídos. Alguns também são especialistas em abrir as mais difíceis fechaduras de gaiolas;
11. Aves são barulhentas por natureza, algumas mais que outras, é comum problemas com vizinhos e visitas do órgão ambiental por denúncia.
Finalmente, conviver com seres tão espetaculares é maravilhoso, porém, bom lembrar que para todo bônus tem um ônus, então, pare, pense sempre e questione, se você está suprindo as necessidades dela, se coloque no lugar dela, nada de qualquer cantinho serve, não serve. Qualquer resto de comida serve, não serve. E aqui algo muito importante, cachorros uivam de dor, eles demonstram seu desconforto. As aves, elas não emitem lágrimas, elas não vão gritar, elas vão se encolher e silenciar, conheça sua ave, tenha intimidade com ela, até conseguir ler sua postura corporal, um olhar diferente, ou seja, estabeleça uma comunicação.
Adna Dantas