Saúde

Aparar as penas é fácil, difícil é saber, se o que você está fazendo está correto.

1 de julho de 2016

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Aparar as penas é fácil, difícil é saber, se o que você está fazendo está correto.

A decisão de aparar ou não as penas das aves, é para alguns, um tema difícil, que gera dúvidas  e inseguranças sobre o que é o melhor para eles, sobre este tema aconselho ler esta série de matérias:

Uma conversa necessaria sobre o voo de psitacídeos

A importância do voo

A importância do voo para psitacídeos de estimação Mitos e verdades sobre o corte de asas dos psitacídeos Como garantir a segurança de um psitacídeo que voa Como ensinar seu papagaio a voar Decidimos abordar o tema devido a uma seguidora nos ter procurado com o seguinte relato: Então, minha história é a seguinte: Minha arara aprendeu voar e toda brincadeira dela é de bater asas, voa em mim, na minha cabeça, me arranha toda, sobe em cima do guarda roupa, do armário da cozinha, cortina, enfim, todos os lugares mais altos que ela queira estar. Isto começou a me preocupar, então decidi aparar a asa com ajuda de um profissional, claro, aí veio o meu arrependimento. Eu sinceramente tive até vergonha e demorei a falar com o Criadouro sobre o assunto, porque fiquei com medo de julgamentos, uma vez que eu já estava sofrendo muito com tudo, mas eles foram  maravilhosos e ele me disseram que fiz o que o profissional que eu acreditava me aconselhou. O veterinário me deu duas opções: aparar cortando ou arrancando. Disse que as duas tem os pós e os contras e tal, mas me passou a certeza que arrancar seria a melhor opção e eu sabia que ele arrancava de calopsitas porque já encontrei pessoas lá com aves fazendo isso. Questionei bastante sobre infecção, dor, sangramento e enfim, ele me disse que não tinha perigo algum, e que seria tranquilo, eu ainda perguntei: “O que você faz na sua?”, porque sei que ele tem uma Canindé também, ele disse: “Eu arranco porque é melhor que cortar, cortar fica feio, fica aparecendo, cresce umas pontas secas que as aves tentam  roer e se machucar, fora que se bater tem uma dor horrível.” Importante dizer que foi arrancado estas penas grandes, de uma Arara Canindé (Arara ararauna) que tem cartuchos grandes e grossos, sem nenhum tipo de analgesia, enfim, a dona pagou para um “profissional” agredir sua ave, infelizmente, não podemos usar outro termo que não seja este. 

Bem, como é de se esperar a ave não ficou bem, ficou amuada, quieta, triste. Após o ocorrido não permite mais que a dona toque para fazer carinho na asa. Além dos danos físicos, nos preocupa muito os danos psicológicos, a quebra de confiança, o trauma.

A ave antes, segura, confiante, agora entra em pânico se tentarem colocar ela no carro, o que não ocorria antes. Houve uma quebra na confiança entre ela e os proprietários que será bem trabalhoso recuperar.

Importante dizer também, que foi arrancada as penas de apenas uma das asas, como consequências:

-Se esta arara se assustar e instintivamente tentar voar ela vai desequilibrar e cair, podendo assim sofrer fraturas, traumas, abertura de quilha e até ir a óbito.

-Como é uma ave ainda nova, com poucos meses, e com a musculatura ainda em formação, quando tentar voar ou bater as asas, vai forçar o lado que esta inteiro para compensar a que está aparada, desse modo trabalhando um lado da musculatura e outra não, ficando assim diferente do natural a espécie.

A pena da ave é uma estrutura extremamente complexa, as pessoas costumam  pensar em pena como um parte morta, como um fio de cabelo humano, quando na verdade é uma estrutura com partes vivas e algumas ligadas em áreas enervadas, com vasos e contato com a parte óssea.

A pena exige muito da ave na sua formação, muita proteína, muitos nutrientes.  Uma ave subnutrida apresenta logo problema no empenamento, no período de muda as aves ficam mais frágeis e mais suscetíveis a doenças, é recomendado nesse período reforço na alimentação.

As penas das asas, apresentam duas grandes divisões, as rêmiges responsáveis pelo voo, e as secundárias responsáveis pela estabilização do voo, são elas que dão capacidade da ave voar, se a pessoa não entender desse principio básico, ela já pode comprometer toda a estrutura e levar a ave a se acidentar.

O aparo das penas das asas só deve ser feito por um profissional habilitado,  que tenha noções de fisiologia e anatomia das aves, erros no momento do procedimento de aparo de asas podem ocasionar: Morte por asfixia decorrente de erro na contenção,  machucar o animal ou o profissional se machucar. Principalmente em aves de maior porte como arara e papagaio, os danos decorrentes de arrancar uma pena são bem mais sérios, devido ao calibre maior das penas e o fator que as rêmiges tem contato intimo com a musculatura e a parte óssea. 

No rx você consegue ver um sulco onde a pena chega a tocar no osso. Quando você arranca uma pena você além do osso  está mexendo também com a parte muscular, que além de dá proteção aos órgãos é responsável por  fazer a pena se arrepiar. Como as penas são ligadas em estruturas musculares, tem ainda nervos e vasos.

É inimaginável, ao menos pensar ou admitir a possibilidade de arrancar uma pena sem o animal estar anestesiado, sedado, assistido com o devido protocolo de terapia de dor, antibioticoterapia, curativo para evitar um foco de infecção. A estrutura das penas são tão importantes para uma ave, que no oriente médio os grupos de falcoaria  trabalham com bancos de penas, penas que caem ou de animais mortos, nestes bancos são separados as penas por tipo e quando uma ave quebra a pena, eles realizam o implante de outra pena do mesmo tipo dentro do cartucho daquela que ficou só o pedaço, tudo isso para preservar a estrutura , poupar  a ave e manter sua capacidade perfeita de voo.Cada pena tem formato e função diferente.

Referente as Penas Hemorrágicas (penas com sangue em seu interior para permitir o desenvolvimento da pena), se a pessoa não tiver essa noção vai acabar cortando a pena que não pode ser cortada por conter sangue, na rotina clinica, é muito comum pet shop ou pessoas procurarem desesperados um médico veterinário por não conseguir conter a hemorragia. Nesses casos é necessário o arrancamento, que por sua vez também não deve ser feito por pessoa inexperiente, não é um processo simples, em muitos casos sendo necessário realizar analgesia para evitar a dor e anti-inflamatórios.

Outro ponto importante, é que quando extraímos a pena, estamos dando um estimulo ao corpo para produzir uma nova pena, acelerando assim o processo de muda, sendo  um inconveniente para os proprietários e desgastante para a ave. Quando arrancada, em duas ou três semanas já temos uma nova pena, num papagaio ou arara por exemplo , eles fazem a muda de forma gradual, desse modo o aparo, é realizado  em media duas vezes por anos, as vezes mais que isso, já as calopsitas a cada 3 ou 4 meses.

A pessoa que esta fazendo este trabalho precisar saber qual pena, qual osso ela tem que sustentar com a mão, tudo isso exige conhecimentos de anatomia. Ela precisa entender do mecanismo respiratório para não provocar durante a contenção, a morte por asfixia. Isso exige conhecimento de fisiologia. Enfim, não é somente aparar, precisa ter noção do acabamento, tamanho e função de cada pena. Entendendo tudo isso ela não vai machucar o animal, o profissional não vai se machucar. Ela não vai provocar dor.

Outro ponto importante são os aspectos psicológicos que envolvem o aparo das asas,  aves sensíveis e extremamente  inteligentes como papagaios e araras, muitas vezes ficam com traumas sérios e perdem a confiança nos seus tutores quando passam por uma contenção mal feita, que dá medo, pânico, gritos,  com varias pessoas segurando. Uma contenção correta deve ser sem asfixia, respeitando o tamanho do corte, não fica feio, estropiado. O procedimento deve ser feito sem machucar o animal, ser contido de forma correta, com mínimo de stress, sabendo evitar pontos de dor,conter de forma inteligente sem a ave espernear, sem gritar.

Por fim, aparar qualquer um pega uma tesoura e apara, difícil mesmo é saber se o que você está fazendo é o procedimento correto para a sua ave.

 Supervisão Técnica – M. V.  Octávio Lisboa Medicina de Aves (https://www.facebook.com/medicinaaves/?fref=ts) Copyright – Proibido a Reprodução total ou parcial do conteúdo.

Fundadora do Diário

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