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Arrancar as Penas

5 de junho de 2021

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Arrancar as Penas

“Sou pai de 5 psitacídeos… Meu medo sempre foi o arrancamento de penas, por saber o sofrimento que é para ave e tutor… Iniciei o processo de mudança de casa ano passado, ao perceber a movimentação estranha minha ararinha Maracanã iniciou o arrancamento, porém não foi apenas pena, ela arrancou pele e carne, chegando a ficar internada por ficar fraca de se machucar e sangrar… Fiz todo tipo de exame e a saúde física estava totalmente bem, ela usou cone e fez tratamento com antidepressivo (lógico que receitado pela veterinária especialista) por um ano, hoje não arranca mais as penas, mas digo, é um sofrimento real, o que para nós é “simples” como a mudança de casa ou de ambiente para eles pode ser muito difícil de assimilar e é necessário muita dedicação para elas voltarem a sua normalidade.” (Bruno Tucci)

O chamado Picacismo ou automutilação é sem sombra de dúvidas um dos problemas mais difíceis de resolver, ao termo e fato a constatação é rápida, o difícil e demorado é descobrir o porquê, ou em alguns casos os porquês já que os gatilhos podem ser de fundo físico, psicológico ou uma combinação de ambos.

Pode acometer todas as espécies de psitaciformes, porém algumas apresentam maior número de indivíduos acometidos por esta síndrome, o que a ciência ainda não descobriu é qual o ponto de interseção entre estas espécies que as colocam nesse grupo, alguns exemplos são: Ararajuba, papagaio do congo, arara canga, cacatua.

Não existe uma relação de tipo de problema x intensidade, ou seja, para o mesmo gatilho, aves podem apresentar um grau leve ou grave do picacismo, e que medida de grau seria esse:

-As que iniciam repicando as penas

-As que picam as penas de outras aves

-As que iniciam arrancando algumas penas

-As que já na primeira crise arrancam grandes áreas de penas

-As que na falta de penas partem para ferir a própria carne

-As que já iniciam ferindo a própria carne

No caso que trouxemos hoje a ararinha maracanã começou um quadro grave de mutilação, iniciando já ferindo sua própria carne.

Esta foto foi do primeiro dia ele já fez um buraco no local

No segundo dia já começou ferir levemente a pele só arranhando

O tutor da ave foi muito rápido o que não é comum, a velocidade na intervenção nestes casos faz toda diferença, aqui a veterinária já havia realizado coleta de material e solicitado inúmeros exames, dos mais simples aos mais improváveis a fim de descartar qualquer causa física e poder tratar com segurança problemas psicológicos.

 

Neste ponto ela já feriu de fato arrancando carne mesmo e fazendo buraco na pele.

Como ela perdeu bastante sangue e se mostrava fraca ela ficou internada uma semana sendo monitorada pela médica que poderia verificar in loco além aspectos clínicos físicos, também os aspectos comportamentais. Neste período ficaram prontos os resultados dos exames que mostrou que a saúde física estava boa e dentro da normalidade para a espécie, sendo descartado assim causas físicas restava tratar o psicológico e comportamental da ave.

O Gatilho

Pode ser de ordem física de toda sorte de natureza, desde parasitas, fungos, vírus, bactérias, alergias, inflamações, enfim, toda sorte de desconforto. Vamos nos ater aqui ao caso em específico. O gatilho para essa ararinha se deu pela movimentação intensa dentro da sua residência para mudança de domicílio da família. Esse é um dado importante de ser destacado para que você que está lendo entenda que o gatilho para uma reação tão violenta quanto se machucar não precisa ser algo grave, agressivo ou doloroso para ave segundo nossa concepção, não precisa por exemplo ser um evento com a violência de uma agressão física.

Tudo vai depender do grau de sensibilidade da ave, sendo assim, encontramos aves que se mutilam até porque foi mudado a cor de uma parede, ou retirado um móvel, a troca de um brinquedo por outro, mudança na posição de um poleiro.

Lembrem-se que são animais de rotina, há de se ter uma certa constância para se promover segurança, e quebras programadas de rotina que provoquem adaptação, promovam um dia diferente, tirar da zona de conforto, combater o tédio, porém sem causar desconforto ou dor.

O tratamento

É e deve ser sempre personalizado, acompanhado por um profissional, cada paciente responde de um jeito, a exemplo o colar elisabetano pode ser um grande aliado em alguns casos, e agravar o caso em outros casos.

Alguns protocolos homeopatia resolve, outros é necessário entrar com psicotrópicos, além disso a dosagem e resposta do organismo é individual, não devendo ser nunca descartado a possibilidade de efeito colateral, mudanças e correções no tratamento são definidas sempre pelo profissional que acompanha a ave.

No caso da ave em questão ela foi liberada para casa utilizando o colar, sendo tratada dos ferimentos e uso de medicação antidepressivo.

Seguindo o tratamento medicamentoso e passando pelo processo de adaptação a nova casa, aos poucos as penas voltaram.

Foi muitos meses de tratamento e observação, quando foi percebido que ela já não ficava mais tentando alcançar as penas para arrancar optou-se por retirar o colar, esta etapa exige que quem cuida da ave fique com monitoramento muito de perto e atento para o comportamento, qualquer tentativa de arrancar deve ser comunicada e avaliada se vale tentar intervenções com atividades na hora ou se é necessário voltar o uso do colar, isso exige também muito auto controle e observação para não confundir um arrumar as penas com arrancamento de penas.

Um ano depois ela iniciou o processo de desmame do medicamento, hoje já não arranca mais as penas, mas segundo seu tutor a experiência é sempre um fantasma rondando que assusta e dá medo que tudo comece de novo. Quem já passou por isso sabe, qualquer mexidinha nas penas, tão comum e tão normal se arrumar, mas causa no humano uma volta, um medo que seja o início de algo mais.


Importante Saber

-É um distúrbio multifatorial

-É um perigo tratar tudo como stress psicológico já que o stress pode ter como agente causador algo físico

-Algumas aves mesmo depois de solucionado o gatilho motivador desenvolvem o hábito de arrancar penas

-A pesquisa da doença, diagnóstico e tratamento costumam ser demorados

Alterações na estrutura, rotina e manejo de aves devem ser estudadas e implementadas com atenção, assim como grandes movimentações ou aumento de pessoas tendo acesso a ave, por isso achei importante falar desse caso, antes de mudar de casa é importante preparar a ave para esse processo.

Para saber ter mais informações sobre esse tema e outros distúrbios comportamentais convido vocês a se inscrever em nosso curso de manejo de aves de bico torto – https://www.comocuidardeumpapagaio.com

 

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