Descobri um câncer, na minha falta, quem vai cuidar das minhas aves?
Depoimento de Sibele Buzo
Foi meu maior terror há 3 anos quando tive câncer. Fiz um monte de gente, marido, amigos, se envolverem no bem-estar dos meus filhos, do bandinho, pois não podiam ser separados caso algo desse errado.
Passei bastante tempo com eles, pois tinha que me abster de contato pós quimioterapia, coisa que acabei não fazendo muito, punha máscara e nem por isso me estranharam. Só não os deixei me ver careca, fiquei cismada que pudessem mimetizar e desenvolver alto bicamento. Outras vezes punha a peruca só para ir vê-los. Foi uma época de muita incerteza, preocupação com eles, pois meu marido gosta, mas não é ligado em cuidados e rotina, o que eles necessitam. Deixei-o instruído que em caso de zica os deixasse ir, juntos, para um mesmo lugar pois vi quando perdi meu Nick, como se ressentiram, e incumbi um amigo, família nessas horas não tem cabeça, que cuidasse disso. Cheguei a fazer contato com o Parque das aves, embora não tivessem mimo de manejo, tão humanizado quanto os acostumei, talvez seria uma possibilidade de mantê-los juntos. Isto já seria um apoio em circunstância de mudança de ambiente e ausência de quem se acostumaram desde bebês. São animais de muito apego emocional e se desestabilizam com mudanças, me preocupei muito na época com eles.
Nessas horas, muitas pessoas pensam em vender, em momentos assim não se pode pensar em dinheiro, esperar vender? Tem que se pensar em amor, em eles estarem juntos (no meu caso que há época eram 5).
Vejo muitas pessoas adquirirem animais como se fossem objetos de decoração ou escravos emocionais. Meu Nick (a cacatua que perdi) era o único que não tinha parceira, motivo que saia mais conosco, as pessoas se encantavam, aí porque quero, quero e quero um também. Então, eu dizia: “Não é tudo apenas maravilha, leia muito antes, converse com quem tem, mudará sua vida. Não é um bonequinho que tira da caixa apenas quando quer brincar. Tive uma Severina que adquiri de uma moça que comprava aves por impulso, e ia mudando de “modelo”.
Vejo pessoas vendendo suas aves, apenas para fazer dinheiro para comprar outras, penso como fica o coraçãozinho desses bichinhos? Depois, posam de amantes dos bichos, isso me entristece muito.
Minha Ju, veio para mim depois de haver sido vendida para 2 outras famílias e der devolvida por alegarem ser brava e jamais se transformar num Pet. Estava para ser devolvida ao criadouro e integrar o plantel. Fiquei com ela, ela foi comigo para o Rio de Janeiro no natal, mas por conta do calor, no aniversário da minha sogra a deixei hospedada em Sampa no fim de semana que fui para lá. Acho que na cabecinha dela pensou, fui rejeitada de novo? Na segunda quando fui busca-la estava abatida, o veterinário disse que decaiu de repente e que a levasse para casa, mas retornasse no dia seguinte para verificar se era alguma infecção em curso. Vim chorando no caminho, pois cada curva que fazia com o carro ela escorregava na caixa de transporte. Pensei, perdi minha Juju, estava a 45 dias comigo. Cheguei na garagem, a tirei da caixa para subir com ela no colo, acabou a suspeita de infecção, ela subiu firme e forte na direção do carro e deu um berro com alto e bom som, tipo, voltei para casa!
Durante toda quimioterapia ela sacou algo diferente, saia do viveiro de manhã, mas não ia para o poleirão, ia para cima do viveiro e ficava olhando ressabiada, tipo tem algo estranho no ar. Tadinha da minha bonequinha, eles acompanham e sentem todo problema da casa, seja qual for o problema. Isto é mais um motivo para enfrentar a vida de forma diferente, eles não precisam desse estresse. Devemos entregar tudo nas mãos de Deus!
Enfim graças a Deus não precisei me separar deles.
Escutamos o depoimento de Sibele e sua coragem em partilhar conosco. E aproveitamos para dizer, que não esperem um momento crítico chegar para pensar nisso. Não deixe que o acaso tome conta da vida do seu filho. Planeje, onde e quem vai cuidar deles na sua falta!
Esta matéria nasceu de um comentário e posterior bate papo com Sibele Buzo sobre esta matéria: https://www.diariodeumpapagaio.com.br/post/o-abandono-de-aves/102
Edição: Adna Dantas