Criando Psitacídeos

Evitar fugas através do Bem-Estar, será?

27 de junho de 2019

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Evitar fugas através do Bem-Estar, será?

Ouvi muitas vezes e até de pessoas que trabalham profissionalmente com aves que: “É preciso criar um relacionamento afetivo com a ave, assim ela nunca vai embora, e se fugir ela volta.”

Nesse tempo vi também pessoas levando essa sentença como verdade absoluta, não aparando asas ou garantindo áreas seguras, espalhando essa ideia e com pouco tempo os casos de aves perdidas nesse grupo se multiplicando.

Se uma ave é bem cuidada, tem um lar amoroso, comida, água limpa e fresca, proteção, conforto e amor ela vai fazer daquele local seu lar e daquelas pessoas seu bando, mas essa segurança e bem estar não garante ou supre a sua curiosidade, hábitos migratórios da espécie, tendência natural a exploração de locais, busca de alimentos novos, ou o desejo de todos os seres vivos de conhecer e experimentar novas coisas, ou seja, se a porta estiver aberta, é natural que hora ou outra passe por ela.

Algumas aves que passam por privações de todo tipo, maus tratos ou uma vida tediosa, chata e pobre de estímulos podem sim estar fugindo da dor, da fome, da sujeira, das agressões, de uma vida ruim. Algumas chegam a fugir literalmente com a corrente que as prendiam no pé e assim são achadas, mas a grande maioria dos casos de fugas, tem esse nome utilizado muito mais por vício de linguagem, que por representar de fato o ocorrido, o termo correto a ser utilizado em grande parte das situações é : Minha ave se perdeu.

A habilidade de voar é um instinto natural, não aprendido, é um reflexo que vai ocorrer automaticamente pelo comando do cérebro sempre que a ave sinta essa necessidade. Grande parte das aves que se perdem são por susto que provocaram o voo, susto por diversos motivos: Predadores no local, objeto que caiu, pancadas, barulho alto, explosão, fogos e tantos outros.

Elas não queriam ir embora, apenas ao voar assustadas e cada vez mais assustadas, vão se distanciando, por não ter desenvolvido suas habilidades de geolocalização, esse sim aprendido com outras aves do bando ou com os pais, elas não sabem reconhecer os pontos no céu e voltar para casa.

Garantir os direitos das aves é um dever de todo tutor e estão estabelecidos dentro das cinco liberdades dos animais que norteiam as leis para o bem-estar deles:

  1. Liberdade de Fome, sede e má nutrição – Que trata do acesso à comida e água na quantidade, qualidade e frequência ideais.
  2. Liberdade da dor e da doença – Que trata do acesso a assistência médica ampla (tratamentos e remédios), a saúde física está diretamente ligada ao bem-estar.
  3. Liberdade de desconforto – Ambiente protegido, com abrigo, temperatura confortável á espécie e superfícies que propiciem conforto.
  4. Liberdade para expressar o comportamento natural da espécie – É preciso que o espaço onde vive não restrinja os comportamentos naturais, isso inclui atividades que estimulem esses comportamentos, por exemplo: Procurar comida, escalar, se pendurar, pular, voar.
  5. Liberdade de Medo e estresse – Os animais devem ser livres de sentimentos negativos, aqui entra tanto a relação animal/homem no tratamento diário como a sua exposição, ou convivência forçada com outros animais que lhe causem medo, desconforto ou stress.

Onde queremos chegar? Exatamente no ponto que a felicidade do nosso lar e tudo que possamos ofertar a ave não é garantia contra perda. Devemos enxergá-las como crianças que precisam de supervisão, proteção e segurança, para garantir isso tutores adotam diversos métodos, alguns únicos, outros combinados entre si. Exemplos:

  1. Aparar as asas – É preciso estar ciente que o aparo diminui a capacidade de ganhar altura, mas registra-se todos os dias, diversos casos de aves que conseguem voar e sair mesmo com as asas aparadas.
  2. Telar a casa – A tela por si só não evita 100% da ave sair, diminui sim consideravelmente, porém, em momentos que moradores abrem portas ou janelas ou esquecem aberta a ave pode escapar, junto a este método é importante se criar protocolos de segurança, por exemplo cuidados ao abrir portas, tranca-las com chave quando a ave estiver solta, etc.
  3. Técnicas de adestramento – Que ensinem a ave obedecer a comandos e voltar para o tutor quando pousem em locais altos, pousar no braço, ir e vir. Aqui é preciso saber que ajuda no momento de encontrar uma ave que se perdeu para que ela volte para o tutor, já que a maioria tende a pousar e lugares altos como grandes pinheiros ou edifícios impossibilitando o tutor de resgatar.

 

Finalmente, o que se  percebe e tem comprovação cientifica é que quando manejados adequadamente os níveis de stress em aves criadas em ambiente controlado como nossas casas é baixo, ao contrário das aves de vida livre que estão constantemente sob condições de stress por diversos motivos naturais a vida livre: Escassez de alimentos, expostas a intempéries como tempestades, frio, calor intenso, predadores…

Entende-se dessa forma que a felicidade destas aves fora de seu ambiente natural é perfeitamente possível ao contrário do pregado por muitos. Obviamente num cenário de mundo perfeito onde o ambiente natural não estivesse sofrendo todas as agressões impetradas pelo homem como derrubadas, queimadas, poluição, caça, o ambiente natural seria sempre o local mais adequado a eles. A criação particular ela serve tanto para conservação e pesquisa, como garantia da não extinção total da espécie e esperança para a reintrodução na natureza e repovoamento de biomas, assim como evita que se retire exemplares da natureza para fins pet.

Respondendo a pergunta da matéria: Não, a felicidade da ave em sua casa não impede que ela saia e se perca, mas garante que exercitamos o amor ao próximo, o respeito, cuidado e sim, se ela tiver possibilidade de achar o caminho de casa, com certeza ela irá querer voltar, porque fez deste lugar um LAR!

Fundadora do Diário

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