O Luto de Um Animal Pet
LUTO
Este tema já me foi pedido algumas vezes, mas sua natureza dura, crua, dolorosa, me fez fugir dele todos esses anos de canal, antes de falar sobre o luto de nossas aves de estimação, queria dizer para você que chegou aqui, talvez por estar passando por isso, que você não está sozinho, e na verdade, vivemos todos, em vários momentos, tipos de lutos diferentes, todos em algum momento perdemos um parente, um animal de estimação, um amigo, luto de gente viva, pois é, vivemos também um luto quando terminamos uma relação, um amor que morre, uma amizade que se foi, um projeto que perdemos, uma carreira deixada para trás, lutos diários.
“E passam-se os dias, o primeiro mês, o segundo e quanto tempo vamos viver essa dor? O tempo que o teu amor durar, porque ele vive forte, pulsante e intenso dentro da gente, a separação física é uma dura condição, mas não é morte, desaparecimento, fim. Aprendemos a viver com essa falta chamada saudade, esse aperto entre umas lágrimas que as vezes escapam, mas te prometo, vão ter sorrisos, pequenas alegrias proporcionadas pelas lembranças, por tudo que significou e ficou dentro da gente, por tudo que foi e é, e sempre será. O luto é uma pausa demorada, mas uma esperança para quem acredita num reencontro.”
Todos que amaram alguém, que tiveram o privilégio de conhecer o amor nessa vida, de amar e ser amado, de tocar e ser tocado pela essência de um ser, iremos passar em algum momento por essa separação. Se lhe fosse permitido escolher, entre amar e nunca sofrer a perda, entre ter a experiência do êxtase proporcionado pelo amor, os momentos de ternura, o envolvimento , ser cativado com apenas um olhar, um carinho, um toque, uma palavra gentil, a sensação de felicidade, de pertencimento, ser de alguém….. ter alguém, segurança, entrega, troca, amor……O que afinal você escolheria? Viver um grande amor sabendo que o luto um dia chegaria ou nunca vivenciar esse amor agarrado a uma ideia de conforto por ausência de dor.
Só vive o luto quem um dia amou!!!!
Entenda o Luto
Segundo o dicionário Oxford o luto é o sentimento de tristeza profunda pela morte de alguém.
Precisamos entender que apesar de ser um processo vivido por todos, a vivência e resposta a ele é muito individual, e depende de vários fatores como intensidade da relação, crenças, fatores religiosos, estado emocional, maturidade e situação do acontecido, isso porque, algumas situações nos permitem um vislumbre antecipado que o rompimento irá ocorrer, de certa forma, nesses casos, temos um tempo de “preparação”, em outros, vem com rompimentos abruptos ou traumáticos que podem desestabilizar completamente uma pessoa.
Luto por um Pet
Se já é difícil enfrentar um luto, quando falamos de um animal de estimação existe uma queixa recorrente entre os enlutados, o não entendimento, ou não valorização por outras pessoas da sua dor, já que para alguns a morte de um animal não pode ser comparada a dor da morte de um humano, logo não haveria motivo para tanta dor, essa sensação de não ser compreendido e de desamparo por parte de seu círculo social causa ainda mais dor.
Compreender que o caminho do luto é pessoal e que vamos atravessá-lo sozinhos, que ninguém o viverá por nós porque a dor é nossa, é um bom começo, além de não esperar que compreendam nossos sentimentos mais íntimos, o melhor é somente almejar e exigir que respeitem sua dor e que possa vive-la pelo tempo que precisar.
Quando a Ave Pet tem um Companheiro ou bando
Viver o luto já não é fácil, então quando temos animais de estimação que vivem em dupla, casais ou bandos como no caso de aves, nossa dor é dupla, vivemos o nosso luto e a dor de acompanhar o sofrimento do pet que ficou.
Já passei por essa situação e vou contar a minha experiência e percepção.
Na situação 1 – Não deixei que os outros animais se aproximassem, queria poupá-los da dor, da dureza de ver o amigo estendido, sem vida, é normal do ser humano, tentar poupar da dor quem amamos sem refletir que ela faz parte do processo de perda, aceitação, resiliência e transformação. O luto é mais difícil porque o pet some, o bando não entende o sumiço, cria-se dúvidas, expectativas pela volta, frustração pela não volta, raiva, problemas comportamentais, dor.
Na situação 2 – Deixei que ficassem um tempo, que interagissem, que tentassem, que lutassem, que desistissem de esperar reação. Pedi licença, fui carinhosa, peguei o corpo com respeito, depositei com delicadeza na caixa, mostrei, deixei um tempo, sai, voltei, apresentei novamente, conversei. O companheiro se agitou, chamou, chamou, mas via-se que entendia, ele também estava se despedindo. Se resignou, calou, sofreu, mas juntos fomos encontrando uma forma de se organizar a essa nova realidade. Ele pôde viver a perda, e hoje eu sei como é importante deixar que os outros membros do bando participem desse momento. Claro que sabemos que nem sempre será possível, mas quando for, viva o luto junto.
Estágios do Luto
Negação – A pessoa tem dificuldade de acreditar, protela a sequência por exemplo, de velório, enterro. A dor sentida é tão intensa que ele rejeita enfrentar a realidade e alguns chegam a agir como se nada tivesse acontecido.
Raiva – Aqui a pessoa já aceitou a situação de perda como fato, mas é tomada por um sentimento profundo de injustiça e raiva, que pode ter como alvo a própria pessoa que inicia por exemplo, um processo de cobrança de tudo que porventura acredita que poderia ter feito e não fez e se agarra na ideia que se tivesse feito teria evitado a perda. Pode ter o próprio pet como objeto de raiva ou ter como alvo outras pessoas. Aqui gostaria de uma atenção especial, é comum lidar com tutores que perdem suas aves e sem saber como lidar com a dor e todo processo de luto se voltam contra o médico veterinário, em um momento de equilíbrio sabemos que nenhum profissional quer perder um paciente, sabemos que existe sim casos de erro médico, mas devemos ter cuidado em julgamentos precipitados pela dor, onde nosso raciocínio e a busca urgente por um culpado parece ser um alívio, mas que no fim está causando mais dor em outras pessoas e as vezes destruindo reputações.
Negociação – Nessa fase é comum se imaginar inúmeros cenários, e buscar fora do ambiente da crua realidade palpável esperança de volta, começamos a negociar com Deus, com o universo ou sua crença que a situação se reverta e possamos ter nosso pet amado de volta. A crença de ser abençoado ao ponto de dormir e acordar daquele pesadelo.
Depressão – Aqui experimenta-se o contato com a realidade, a falta, o silêncio, não tem mais a vocalização, os voos dentro de casa, as bicadas, a sujeira, nada para limpar, aquele aconchego no colo, o brincar nos cabelos….. Falta, e aí vem a tristeza, dor emocional e física, intensidade e sintomas vão variar entre os indivíduos, é comum acreditar que essa dor vai durar para sempre, mas acredite, não há mal que dure para sempre.
Aceitação – Particularmente não gosto muito dessa palavra, acho que nunca aceitamos, apenas somos obrigados a ser resilientes, a nos conformar, acho que esse é o termo correto. A dor ela já não grita, ela machuca com carinho, com leveza, aquele incomodo, uma tristeza, um pesar, mas nessa fase já conseguimos falar, sorrir com boas lembranças, planejar um futuro, seguir de um novo jeito.
Apesar de serem elencadas como fases, não existe uma obrigatoriedade de se passar por todas elas, alguns vivenciam um ou mais destas etapas, outras pessoas vivenciam todas elas, não existe uma ordem nem tempo de evolução entre elas.
Tempo do Luto
Não existe um tempo, forma, comportamento, existe um caminho de processo que precisa ser vivido, o luto te transforma, te exige reformulações, rearranjos, mudanças. A dor pode vir logo, forte, desestruturadora, mas também pode vir de forma suave, longa, demorada. Pode durar anos, dias, meses, sempre, não tenha pressa, caminhe nesta estrada na velocidade que você consegue, fique, chore no ponto que você precisar e viva os estágios conforme seu próprio processo interno, não se cobre e nem se sinta na obrigação de atender as expectativas de outros sobre um sentimento que é só seu.
No Processo de Luto é normal sentir:
Ansiedade
Culpa
Tristeza
Raiva
Descrença
Perda da Fé
Aumento na Fé
Sensação de impotência
Cansaço
Solidão
Ansiedade
Perda do apetite
Ânsia de Vômito
Insônia
Não se sinta fraco, a dor emocional pode causar grandes desequilíbrios e adoecer seriamente nosso corpo. Algumas pessoas somatizam tanto, e tantos sintomas juntos, que chegam a adoecer seriamente, sentem dificuldade de sair desse processo e acabam por entrar num caminho de destruição de si mesmo, depressão profunda, comportamentos destrutivos, isolamento social. Saber e reconhecer que precisa de ajuda é fundamental, além de respeito a si mesmo e aos demais que te amam, precisam de você e se preocupam com sua integridade física e emocional. Peça ajuda, não é só um bicho, ele era um amor na sua vida, quando não conseguimos lidar sozinhos com a situação devemos conversar com alguém que confiamos e contar com ajuda profissional como um psicólogo especializado em luto.
Lembre-se também que se você tem outros bichos em casa ele também estão de luto pelo amigo que perderam, e podem sentir alguns dos sintomas citados acima, alguns entram em estado de depressão tão profunda que acabam morrendo, é preciso ficar atento e ajudar.
Como ajudar alguém em luto
-Nunca ofereça outro animal a um enlutado imediatamente, ele precisa viver o luto, avaliar o dali para frente. Um ser nunca substitui outro, cada amor é único, cada história genuína, outro animal pode vir, desde que seja vontade do enlutado, deixe que ele expresse isso.
-A tentativa de minimizar a dor da perda de um pet, com outro pet imediatamente, sem o devido processamento do luto, causa em alguns enlutados mais decepção, pois procuram no novo pet características, comportamentos e cumplicidades vividas com o que perdeu, ao não suprir vem a frustação, saudade e mais dor.
-Saiba escutar, uma pessoa em luto pode necessitar falar repetidamente sobre sua perda, isso pode impacientar algumas pessoas, mas o falar e deixar falar na verdade é bom, porque o enlutado está em processo de cura, está trabalhando questões dentro de si e procurando compreender e aceitar.
-Sugira rituais de despedida e valorize isso se for bem aceito, cerimonias de despedida, preparação de textos, velório, orações entre outros tem um efeito benéfico e curativo no processo de luto para muitas pessoas.
-Guarde lembranças, fotos, registros, brinquedos, guarde se for necessário para você algo material.
-Mostre que está perto e é solidário com a dor.
-Alguns não querem falar e precisam de espaço, existe muitas formas de dizer eu te amo, estou aqui, me preocupo com você. Mostre que está perto, um olhar de carinho ou um abraço sincero preenchido de silêncio, muitas vezes fala mais que textos inteiros.
Seguindo em Frente
A falta de alguém que amamos é algo que vamos ter que aprender a conviver, devemos viver o luto, mas também não devemos nos constranger em tentar seguir em frente.
-Você pode sorrir, mesmo no dia da morte, isso não significa insensibilidade ou falta de dor, mas sim que foi um amor tão grande e tão intenso que boas lembranças e momentos engraçados saltam na memória e lhe arrancam bons sentimentos.
-Você pode seguir em frente no tempo que quiser, e vai ter dias mais fáceis e mais difíceis, dias de saudade gostosa e dias de dor, mas continuar faz parte, sua vida segue e a vida chama, tem outros amores, bichos, pessoas.
-Recomeçar, retomar, seguir, não significa esquecer, nem que seu amor não era verdadeiro, não se sinta traindo, desprezando ou diminuindo esse amor. Significa que você aprendeu a levar consigo esse amor de uma nova forma e seguiu trilhando uma nova trajetória.
-Tente reorganizar sua agenda preenchendo o tempo que ficava com sua ave pet com outra atividade.
-Se te faz bem ver fotos lembranças, acompanhar canais sobre pet faça, reviva esse amor quantas vezes precisar, mas se dói esse confronto com as lembranças, se permita se afastar por um tempo, um dia você vai conseguir olhar com menos dor e mais boas lembranças.
Respeite e viva o seu luto!!!!