Comportamento

Como as Mudanças podem afetar o comportamento

23 de março de 2020

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Como as Mudanças podem afetar o comportamento

Está matéria é complementar aos vídeos que nasceram do pedido de ajuda de um seguidor, segue na sequência texto e em itálico nossos comentários sobre o caso.

Boa noite!!

Meu nome é xxxxx, tenho 31 anos e hoje possuo 4 araras ( 1 Casal de Canindé e um casal de Macao ) que vivem em um viveiro, essas aves vivem juntas fazem aproximadamente 6 anos, sei que cada uma delas tem suas peculiaridades comportamentais, no começo eu consegui “pegar” e acariciar todas sem muitos problemas, mas com o passar do tempo foi ficando mais difícil o contato por conta de trabalho e outros afazeres, e acaba que o maior contato que tenho é na hora da alimentação na parte da manhã, vou tentar contar aqui a “história” de cada um em relação ao comportamento e quem sabe assim conseguir alguma ajuda.

A ( Macho Canindé )

Esse foi o primeiro veio com 3 meses de vida ainda se alimentando na seringa, o que ficou mais tempo comigo desde o começo, morava dentro de casa, dormia no quarto, deitava e rolava no chão e essas coisas, depois foi para o viveiro, um certo dia ele voou e se foi por volta de umas 8:00 da manhã, mas consegui acha-lo próximo de casa por volta das 19:00 do mesmo dia ( baita sorte né, rsrs) porém voltou sem as penas do rabo e com muita fome, depois disso nunca mais consegui toca-lo sem tomar uma bicada ou sem ter que conte-lo, a única coisa que faz é apenas voar no meu ombro afim de ganhar um pedaço de banana ou de ração.

Vídeo Capitulo 1

https://youtu.be/m7VQQxDM0Xc

 

T (Fêmea Canindé)

A segunda a morar no viveiro, veio com 3 meses de vida e ainda se alimentando na seringa, porém essa de forma forçada, regurgitava várias vezes, ela não gostava da seringa ou da papa, ficou uns 4 meses dentro de casa comigo antes de coloca-la no viveiro junto com o Alfred, mas ave bem mansa e com ela tenho um bom relacionamento até hoje, me beija, voa em mim, consigo passar a mão nela, mas as vezes ela me rejeita, foge de mim dentro do viveiro, mas também é ciumenta, quando chego perto de outra das aves ela quer sempre me chamar atenção, ficar próxima a mim.

Recusar papa é sempre motivo de atenção já que pode ocorrer por doença ou alteração na mesma mesmo estando dentro da validade, assim como volume superior a capacidade da ave, nunca se deve forçar a ave a tomar a papa e sim buscar avaliar o que ocorre e buscar alternativas.

Quando isso acontecer:

-Verifique dentro do bico se tem alguma alteração;
-Abra completamente o pacote do pó da papa, veja se tem mofo, como está o aspecto e cheiro;
-Se as fezes estiverem alteradas suspenda imediatamente a papa;
-Procure um Médico Veterinário;
-Mude a marca da papa;
-Incremente a papa adicionando frutas e legumes dentro.

N ( Macho Macao )

O terceiro a chegar por aqui, esse já veio com 8 meses e já se alimentava sozinho, eu cheguei a tentar a seringa para tentar criar um vínculo maior, mas sem sucesso, ficou em casa uns 3 dias e já coloquei ele no viveiro, ele nunca foi muito dócil, sempre tenta me bica quando vou passar a mão nele, consigo pegar ele forçado pelos pés e quando ele está na minha mão apenas que consigo coçar a cabeça, ele responde com arara algumas coisas e é bem falante, assovia e remeda frases.

Ter vínculo com uma ave depende muito do tempo dedicado a ela. Veja esse vídeo: https://youtu.be/1E_Jpa0u4UQ

Quanto a oferecer papa a uma ave já com 8 meses, ela pode ser dada as vezes, como um mimo, porém feita com ração extrusada, não utilizar o pó de papa para filhotes. Não precisa necessariamente ser com seringa, ela pode comer direto no comedouro, você dar com a colher  ou utilizar potes com bico como os usados em botecos para maionese.
O que faz estreitar os laços é o contato constante e a intimidade com ela, a comunhão de sentar no viveiro e comer junto com elas uma fruta dá o mesmo efeito de estreitar laços que você pode conseguir com a papa.

Pegar a arara a força, fazer contenção sempre só dificulta a relação e aumenta o distanciamento entre vocês, o segredo é estabelecer confiança e negociar para que ela acabe fazendo o que você quer, sei que não é fácil já que exige tempo que as vezes o tutor não tem e paciência para esperar o tempo dela para fazer o que pedimos.

R ( Fêmea Macao)

A quarta e última, veio com 3 meses de vida e ficou mais uns 3 meses dentro de casa antes de ir para o viveiro, porém o intervalo de chegada dela foi de quase um ano após o N, sendo assim tive que fazer um tipo de socialização dela com as outras 3 que já dominavam o viveiro, coloquei um viveiro menor dentro do viveiro fixo e mantive ela lá por uns 20 dias, soltando ela dentro do viveiro em curtos períodos sob a minha supervisão, essa ave é bem mais tranquila comigo, é bem mansa e tal, mas eu percebo que as outras 3 ainda “excluem” ela do bando, as vezes até brigam um pouco mas nada grave.

Achei muito legal sua preocupação em socializar , essa etapa é muito importante, a dica aqui é deixar o viveiro próximo ao outro e não dentro para evitar possíveis acidentes.

Link do Vídeo do Capitulo 2 – https://youtu.be/s2kQmEvVWec?sub_confirmation=1

 

Bom agora que já “apresentei” as aves, vamos ao fato que me fez pedir socorro aqui.

Por volta do dia 01 de fevereiro, notei algumas falhas na plumagem da T na região do peito, falei com a veterinária de minha confiança e fizemos um exame de fezes que deu positivo para giárdia, para conseguir fazer o tratamento dela tive colocar ela dentro do meu quarto comigo em um espaço improvisado, afim de ficar mais fácil a administração do remédio, que tinha de ser feito 2 vezes ao dia por via oral, fiz os primeiros 15 dias de tratamento aguardei o prazo de 10 dias para repetir o exame, e novamente deu positivo e tive que repetir todo o processo, aqui comigo dentro de casa, ela sempre super dócil, me chamava assoviando, fazia suas “brincadeiras” e tudo mais, quando foi ontem 16/03 chegou o dia de soltar ela no viveiro novamente, e ai começaram os problemas, eu, trabalhando no meu quarto começo a ouvir alguns gritos diferentes ( de desespero ), quando vou no viveiro estão as duas canindés com a cara ( parte branca em pele ) toda arranhada, onde com isso decido colocar o outro viveiro dentro do viveiro fixo e colocar a turquesa dentro dele, no dia seguinte ( hoje 17/03) resolvo tirar o dia de folga, aproveitar para lavar o viveiro e soltar a turquesa novamente e observar o comportamento de todas, notei que a T estava indo em direção do A e do N afim de ataca-los, e notei também que o A e o N estavam ficando muito próximos (como um casal) e sempre que eu tentava pegar o N ou o A o outro me atacava, por fim a própria T começou a fugir de mim dentro do viveiro, não deixava eu nem chegar perto mais, completamente arredia, o que me fez conte-la e trancar ela novamente no pequeno viveiro, para aí depois ver o que farei amanhã.

Bom espero que possam me ajudar, pois eu não sei o que fazer realmente, é meio desesperador ver a aflição que essas aves ficaram hoje dentro daquela jaula, e como se não bastasse, em menos de um mês estou me casando e mudando para outra casa, onde já tem um viveiro maior e mais arejado para elas, mas não sei se a mudança de ambiente assim repentina, não vai piorar a situação, a impressão que fico disso tudo é que a T era a Ave dominante dentro do viveiro, e como ela ficou esse tempo longe a ave dominante passou a ser o A, e que a  T está tentando recuperar seu lugar lá dentro, nem sei se tem isso nessas aves, mas foi a primeira coisa que veio na minha cabeça.

Agradeço desde já a atenção!

Obrigado

 

Capitulo 3 – A giárdia: https://youtu.be/7HjyrqMHvxQ

Inicialmente vamos falar sobre a Giárdia.
No seu e-mail você fala que T apresentou sintomas, foi diagnosticada com giárdia, isolada e tratada.
Quando ocorre casos de positivo para parasitas em ave que vive em viveiro coletivo é importante fazer o tratamento em todas, mesmo que elas não apresentem sintomas, ou que tenham feito exame e tenha dado negativo, já que os cistos do parasita nem sempre sai nas fezes no dia da coleta, dando assim um falso negativo. Desparasitar apenas uma ave do bando incorre no risco de re-infestação.
A giárdia é muito resistente, vive no intestino dos animais e humanos. Existe várias espécies de giardia, algumas são zoonoses, outras não, as que acometem as aves (G.ardea e G.Psittaci) não são transmissíveis aos humanos.

No caso da rara T ela apresentou como sintoma o arrancamento de penas, antes desse estágio podem apresentar um comportamento compulsivo em “arrumar as penas”, alguns tutores costumam dizer que a ave está com coceira, letargia (sempre desconfie de ave quieta demais ou muito mole) elas podem estar doentes e assim como ocorre na natureza o resto do bando costuma deixar de lado e até expulsar, eles reconhecem quando uma não está bem de saúde. Outros sintomas são: depressão, diarreia,volume aumentado das fezes ou fezes com mau cheiro, lambidas constantes em objetos do viveiro, magreza excessiva, empenamento ruim.

Podemos citar como fonte de contaminação: Água, alimentos mal lavados, contato com fezes contaminadas, insetos como moscas e baratas podem servir como agentes no transporte de cistos do parasita de um local para outro.

Como os índices de reinfecção por giárdia são altos, é indicado adotar medidas profiláticas em paralelo ao tratamento medicamentoso.
Os cistos são resistentes a cloração normal feita na água , um importante agente condutor, deve-se dar atenção a fonte de água de beber, passando a adotar água filtrada e fervida, lavar diariamente todos os comedouros  esterilizando com água fervente.

Importante desinfetar todo o ambiente do viveiro com amônia quartenária , deixar no mínimo 15 minutos, vai ser preciso tirá-las de lá para a desinfecção geral.

Sobre a mudança de comportamento de T ao voltar para o viveiro, tirar a ave de seu ambiente sempre causa algum tipo de stress para todos já que afeta toda dinâmica do grupo que não sabe porque a outra sumiu.
No seu caso especifico, como todas deveriam ser tratadas não tinha necessidade de separar, o isolamento só se justifica em caso de aves feridas ou quarentena.

Não sei se você consegue dar o remédio ou se precisa conter todas as vezes, quando a contenção é necessária causa um grande stress na ave e com o passar dos dias ela tende a ficar arredia, principalmente quando se aproxima da hora.

As aves também costumam apresentar comportamentos diferentes quando estão no viveiro (seu território) e na casa do humano, fora do seu ambiente tendem ficar mais doceis.

Quando você relata que A e N se aproximaram e T está sentindo isso, é perfeitamente normal que quando uma ave saia por muito tempo de um bando ocorra um rearranjo dos papeis, agora ela tenta recuperar seu espaço e pode também estar com ciumes da relação mais próxima entre os dois.

Sobre o novo viveiro e a casa nova:

Neste contexto de grupo, sugiro que dentro do viveiro grande instale um tipo de divisória que possa ser mantida aberta ou fechada criando dois ambientes quando for necessário separar alguém ou deixar por exemplo A e N num lado e T e R do outro, já que R é da paz. Ter um plano B um local para criar separado é importante inclusive para segurança delas. Falo isso porque a tendência quando adultas e formam casal é querer privacidade na época reprodutiva e ter brigas por fêmeas ou território.

É importante aumentar o seu tempo com elas, implementando atividades de socialização, aproveitando momentos como visto no vídeo que estão todas no mesmo poleiro para dar petisco por exemplo e recompensar a cada 2 ou 3 minutos de bom comportamento em grupo durante o treino e em caso de mal comportamento você sai do recinto voltando minutos depois e recomeçando, para que entendam que não é aceitável as brigas.

Se puder contratar um especialista em comportamento animal seria excelente para acompanhar.

Sobre a mudança de casa, algumas aves ficam ansiosas, estressadas e a situação pode piorar por aí, pode ser também que aceitem bem, mas por segurança converse com sua médica veterinária sobre a possibilidade de usar um floral, como ele demora alguns dias para surtir efeito ideal começar uns 10 dias antes da mudança. 

Espero ter te ajudado, conte conosco sempre, abraços.

 

Fundadora do Diário

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