Comportamento

Papagaio Jonathan, será que temos um novo Alex?

12 de abril de 2016

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Papagaio Jonathan, será que temos um novo Alex?

Perdura até os dias atuais, a crença que os papagaios são simples imitadores, para a grande maioria são incapazes de associar uma palavra a algo, compreender conceitos e situações. Na década de 1970 a cientista Irene Pepperberg começou a estudar os papagaios , sendo destaque no mundo todo o papagaio Alex que dá nome hoje ao seu instituto.

Acreditar que os papagaios imitam não está de todo errado, tanto o bebê humano como o papagaio iniciam suas tentativas de comunicação imitando os demais membros do grupo, ao longo do tempo aprendem a fazer associações, compreender quando usar essa ou aquela vocalização e compreender o significados e desenvolvem sua cognição, aprendem conceitos e suas aplicações. Dentre os papagaios estudados por Dra. Irene Pepperberg, um ficou mundialmente famoso, segue sua historia:

 

Alex(1976-2007)

“Conhecido como um dos mais famosos papagaios cinzentos africanos na história, Alex foi pioneiro em novos caminhos na inteligência aviária. Ele possuía um vocabulário de  mais de 100 palavras, conhecia diferentes objetos, ações e cores e pode identificar certos objetos pelo seu material particular. Ele poderia contar objetos  e figuras a um número total de seis e estava trabalhando em sete e oito. Alex exibiu habilidades matemáticas que eram considerados avançadas em inteligência animal, desenvolvendo o seu próprio conceito de “zero-like”, além de ser capaz de inferir a ligação entre numerais escritos, conjunto de objetos , e a vocalização do número. Alex estava aprendendo a ler os sons de várias letras e tinha um conceito de sílabas, os sons que compõem as palavras. A personalidade de Alex foi muito evidente em sua vida cotidiana. Ele era “responsável” da sua casa e saboreou pedir  para “seus” seres humanos, executar várias tarefas para ele. Ele também atuou como treinador e líder de torcida aos seus companheiros pássaros, Wart e Griffin, alternadamente encorajando ou repreendendo durante suas aulas. Seus brinquedos favoritos eram caixas de papelão, chaveiros e rolhas. Comprado em uma loja de animais, em Chicago na idade de 12-13 meses, em junho de 1977, Alex vinha de origens humildes. Suas realizações provaram que os papagaios cinzentos Africano têm inteligência muito além do que se pensava, antes de seu trabalho de décadas com Pepperberg. Infelizmente, Alex faleceu em 06 de setembro de 2007 com a idade de 31anos de um evento de morte  súbita e inesperada. Acredita-se possa estar  associada a arteriosclerose (endurecimento das artérias) ou a uma arritmia fatal, ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral, que o levou a morrer de repente sem sofrimento. Não havia nenhuma maneira de prever a sua morte. Todos os seus exames medicos, a partir de um exame físico recente, incluindo o seu nível de colesterol e os níveis de asper, tinha voltado normais no início daquela semana. Sua morte não pode ser conectado à sua dieta atual ou sua idade; nosso veterinário disse que viu eventos semelhantes em (<10 anos de idade) aves jovens que também estavam em dietas saudáveis. Muito provavelmente, a genética ou o mesmo tipo de baixo nível (impossível detectar em aves ainda) doença inflamatória que está relacionado a doenças cardíacas em seres humanos era o responsável. ” (Fonte Alex Fundation).

Os resultados com Alex serviram para evidenciar que os papagaios iam muito além de associações (combinação, junção, união) e sim , os papagaios compreendem Conceitos (faculdade intelectual e cognitiva do ser humano; mente, espírito, pensamento. compreensão que alguém tem de uma palavra; noção, concepção, ideia.). Isto implica diretamente a ir além de decorar por exemplos os números de 1 a 10, estamos falando da compreensão de quantidade. Compreensão de maior e menor entre outros conceitos.

Dos feitos de Alex, que são muitos, um serve perfeitamente para exemplificar além da sua notável inteligência a sua capacidade cognitiva, seu senso de ser e existir, noção de diferença, de desconhecido e capacidade de questionar até então atribuída somente ao humano.

A primeira vez que Alex viu seu reflexo no espelho, ao se observar ele questionou:  “Que cor?”. Alex era constantemente inquirido sobre cores de diversos objetos, azul, amarelo, vermelho entre outros, nesse momento se depara com um dado novo (cor nunca antes apresentada), isto nos mostra que ele usou a capacidade de raciocínio para comparar que aquele era um dado novo, uma cor nunca antes vista e foi além, questionou que cor seria aquela.  Surpresa, dra. Irene Pepperberg  respondeu: “Cinza, você é um papagaio cinza”. Alex repetiu a mesma pergunta algumas vezes e recebeu a mesma resposta, incluindo o cinza a partir daquele dia na sua paleta de cores conhecidas.

“Audubon.org entrevistados Pepperberg para um artigo sobre a comunicação papagaio – humano : De todas as criaturas da Terra, apenas dois podem produzir linguagem humana : os seres humanos … e aves. Das poucas aves que podem imitar a fala humana, incluindo mainás e corvos , papagaios são claramente o melhor no que faz , eles tem um rico vocabulário , falam vários idiomas, e imitam vários s, mesmo os mais pesados. Então, por que s papagaios podem falar, quando nossos parentes primatas mais próximos não podem?”

Outro feito, que demonstra bem a capacidade de entender conceitos, Alex foi ensinado por Dra. Irene a contar a quantidade de lados de uma figura geométrica, no caso, um triângulo. Ela nunca usou o quadrado como modelo, porém certa vez, ao mostrar um quadrado perguntou a Alex quanto lados tinha, prontamente ele respondeu 4 lados. No Brasil, pioneiramente, temos um lindo papagaio cinza africano de nome Jonathan que com pouco tempo de treinamento, tanto cronológico como tempo dedicado diário, ele treina um pouco diariamente, diferente da rotina de Alex em laboratório como pesquisa em torno de 7 horas diárias,  Jonathan já tem índice de 90 % de acerto, será que teremos um novo Alex? Bem, ele ainda é um jovem de 3 anos, mas já é uma promessa.

“Eles são comprovadamente mais inteligentes que golfinhos e macacos, tendo a cognição de uma criança de 5 anos… Dra. Irene provou que os papagaios do Congo tem uma capacidade de aprendizado espontâneo e não somente associativos…são capazes de entender conceitos e até o que chama de exclusão. Ex. Ele sabe o que é uma caneta, mas não sabe o que é um prato. Você pergunta a ele qual dos objetos é o prato. Como ele sabe o que é a caneta, por exclusão ele conclui que o prato é o outro. Isto é incrível. Algo que muitas crianças de 3, 4 anos não são capazes. Tem capacidade de entender e verbalizar o que é quente ou frio, maior, menor, igual, diferente…entendendo conceitualmente… em relação ao Aestiva, não conheço alguém que o tenha estudado tão profundamente pra saber se poderiam chegar neste nível de cognição…quem sabe… ” (Maurício Catelli)

Jonathan poderia ser somente mais um entre tantos papagaios do congo comercializados em nosso país. Quando o vejo, é difícil não lembrar quantos talentos perdidos em nossas crianças pela falta de investimento, dedicação, base e educação. Quantos grandes cientistas, médicos, músicos, cantores, pintores perdemos por não saber, não ter capacidade e algumas vezes vontade de descobrir a pedra bruta e lapidar. Isto infelizmente também acontece com os psitacídeos, muitos são adquiridos, os proprietários se preocupam em fornecer alimentação, água e um local, mas esquecem de fornecer ou propiciar um ambiente rico em estímulos, ao longo do tempo, a mente inteligente e inquieta desta espécie acaba por entrar num quadro perigoso de tédio, stress e depressão culminando em auto mutilação ou agressividade.

Jonathan sem sombra de dúvidas esta entre os melhores do mundo, sendo reconhecido seu diferencial pela própria cientista Dra. Irene Pepperberg quando esteve com ele em São Paulo (2015), e pôde testar e analisar seu desempenho. Inclusive ele está na frente de outro papagaio do congo famoso conhecido como Eisntein  que esta por volta de 25 anos, responde entre 21 a 22 perguntas, a maioria através de sons, pouca coisa é verbalizada e não reconhece nenhum objeto. Em contrapartida, Jonathan só tem 3 anos, responde 18 perguntas, reconhece 4 objetos e responde também questionamentos em inglês, língua diferente da usual em ambiente familiar. Para que Jonathan seja o papagaio que é hoje houve por parte de seu tutor investimentos tanto estrutural para promoção de melhoria da qualidade de vida , como também de tempo dedicado em um relacionamento tutor/ave.

 Um episódio familiar com Jonathan ilustra o quanto uma ave vocaliza de forma consciente do que está falando, realizando um ato de comunicação completa emissor = mensagem = receptor, muda radicalmente as relações entre homem e ave, e facilita a convivência e bem estar de ambos.

Certo dia, durante o treinamento Jonathan se assustou e voou, batendo forte em uma porta de vidro, caiu, de imediato, parecia bem, foi pego no colo e recolocado novamente no poleiro, e o treinamento continuou com Kate, outra Papagaio do Congo, deixando ele um pouco quieto. De repente ele começa ficar meio mole, fechando o olho como se estivesse com sono, Mauricio achou estranho, mexeu nele para ver se reagia, ele não reagia, pegou ele no colo. Ele desmaiou na mão de Mauricio, com os pezinhos fechados, mole e sem reação, isso durou uns 30 segundos, de repente ele foi voltando, voltando, voltou, e conseguiu empoleirar.Com sua experiência como, paraquedista e piloto, em casos de acidentes, a primeira preocupação, é averiguar se houve dano neurológico, uma das formas é fazendo perguntas que em estado normal a pessoa não erraria. Decidiu então questionar Jonathan, Qual seu nome? ele prontamente respondeu: Jonathan, fez outras perguntas e ele respondeu certo também, desse modo ficou mais tranqüilo já que a condição neurológica estava boa, bastando ficar em observação nas horas seguintes…

Mauricio fala que Dra. Irene adorou essa história, realmente surpreendente você fazer testes neurológicos num papagaio, antes só realizados em humanos. Imagina no futuro o médico veterinário perguntar: Onde dói? E o loro responder: Dói minha asa doutor! A medicina veterinária jamais será a mesma.

Dra. Irene provou que os papagaios do Congo tem uma capacidade de aprendizado espontâneo e não somente associativos, são capazes de entender conceitos e até o que chama de exclusão. Ex. Ele sabe o que é uma caneta, mas não sabe o que é um prato. Você pergunta a ele qual dos objetos é o prato. Como ele sabe o que é a caneta, por exclusão ele conclui.que o prato é o outro. Isto é incrível. Algo que muitas crianças de 3, 4 anos não são capazes. Tem capacidade de entender e verbalizar o que é quente ou frio, maior, menor, igual, diferente…entendendo conceitualmente, em relação aos aestivas, não conheço alguém que os tenha estudado tão profundamente pra saber se poderiam chegar neste nível de cognição…quem sabe…

É importante mencionar que o resultado de Jonathan não foi o objetivo principal, e sim  consequência de um conjunto de ações para a promoção da qualidade de vida deles , esse sim, sempre foi o grande objetivo de Mauricio, que suas aves, tenham qualidade de vida, desse modo podendo desenvolver todo seu potencial. Primeiramente, ele se preocupou no acompanhamento constante de um médico veterinário especialista em animais exóticos e silvestres, feito pelo Dr. Alessandro Beijing (clinica Exotic Pets em São Paulo/SP).  Buscou-se também uma orientação profissional com Paloma Bosso especialista em comportamento e bem estar de silvestres. Paloma iniciou um trabalho tanto de análise e adaptação do ambiente onde fica as aves, como orientação do proprietário quanto as necessidades fundamentais para que um papagaio seja feliz em ambiente domestico, o que chamamos de enriquecimento ambiental, são elas: Físico(estrutura do recinto), Sensorial, Cognitivo, Social e Alimentar. Exemplos de enriquecimento ambiental… eles devem ter 60% do seu tempo ocupado com algum estimulo intelectual, coisa que fazem na vida silvestre (na natureza, boa parte do tempo buscam alimentos); interação inter ou intra espécies criada dentro do recinto, ambiente saudável, espaço adequado, alimentação propícia, etc, etc. Suprida todas as necessidades básicas, e afim de preencher o requisito de estimulo intelectual, Maurício Catelli além de outras técnicas,  iniciou os treinamentos com a aplicação da técnica modelo-rival, mesma utilizada por Dra. Irene P. com Alex.

Para este treinamento , além do papagaio é necessário 2 pessoas, que farão o papel treinadores e modelos. O treinador pega um objeto, mostra à outra pessoa que faz o papel de “Modelo” e pergunta: “O que é isto?”. O Modelo responde: “Bola. É uma bola”. O treinador elogia o Modelo, como recompensa, lhe dá a bola. Esporadicamente,  o Modelo responde de forma incorreta, dizendo, por exemplo, “é uma escada”. O treinador o reprova e retira o objeto de seu campo de visão por alguns minutos e repete a pergunta, desta vez com o Modelo acertando. O Modelo então “vira treinador” e o Treinador vira Modelo (papeis se invertem). As duas pessoas fazem o papel de treinador e modelo revezando-se no processo, sendo que ambas quando no papel de treinador interagem com o papagaio. Já na primeira vez, após algumas repetições o papagaio entra no jogo, como recompensa ele pode comer o objeto ou brincar no caso de não ser comida.

Este método coloca mais ainda em evidência a inteligência e capacidade de cognição do papagaio, já que o mesmo observa , analisa e acaba por compreender o caráter de desafio do jogo, sendo “os modelos” para ele um rival, numa disputa tanto pela atenção do “treinador” quanto pela recompensa. Para o sucesso da técnica é fundamental que eles estejam motivados, inicialmente não deve exceder o tempo de 10 minutos, podendo ser variável de acordo com a motivação da ave.

Quando Mauricio iniciou os treinamentos de Jonathan junto com a Kate (outra papagaio do Congo) ele errava de propósito. Hoje já não faz mais com ela, mas com o Dudu ele extrapola…rs…falando com Dra. Irene a respeito ela lhe disse que isso aconteceu com ela, e que a explicação é a competitividade que esta espécie tem. Porém com o tempo, ele adquirindo “segurança” na posição dele, este tipo de atitude diminui consideravelmente. O índice de acertos do Jonathan está acima de 90%.

  Um Rápido Ping Pong com Mauricio Catelli

DUP : Só os papagaios do congo tem essa inteligência ou outros papagaios como os aestivas por exemplo também tem?

Maurício Catelli: Os Aestivas são tão inteligentes quanto. A diferença é a vontade de aprender…isso me foi dito pela Dra. Irene Pepperberg…e sinto isso com os meus…tenho Aestiva também…são muito inteligentes e tem tido boa evolução…a habilidade da fala dos Congos tende a ser maior, mas não é um fato garantido. As Ararajubas por exemplo são ótimas pra treinar…muito motivadas…no caso delas treino vôo, e exercícios úteis para a saúde delas…

DUP: O seu aestiva participa do treinamento ou fica próximo?

Maurício Catelli: As vezes sim…

DUP: Você percebe que ao ficar perto ou participar aprendem algo?

Maurício Catelli: Mais ou menos, essa é uma das grandes diferenças que noto em casa, os papagaios do  Congo tendem a prestar atenção no que o outro está fazendo, o que vai ao encontro do que Dra Irene me disse. Os aestivas não, pelo menos na minha experiência, funcionam mais nos treinamentos individuais…”.

DUP: Você usa comida como recompensa?

Maurício Catelli:  A recompensa no meu caso não necessariamente é comida, comida na vida silvestre é a maior recompensa deles, meu critério é dar aquilo que eles acertam. Acertou cenoura, ganha cenoura, acertou milho, ganha milho, acertou papel, ganha papel (neste caso é um “brinquedo”) e muitas vezes “apenas” um elogio e carinho, aliás estes últimos sempre.

DUP: Para finalizar, qual a diferença entre o Alex da Dra. Irene Pepperberg e o Jonathan?

Mauricio Catelli: Eu diria que a principal diferença entre os dois é a Dra. Irene. rsrsrs. Falando seriamente, Dra. Irene é uma cientista e pesquisadora, consagrada mundialmente, com metodologia e análises com bases científicas e dedica através de sua equipe, muitas horas do dia aos seus papagaios para este fim. No meu caso, sou ” um simples amante dos bichos”  e tenho como objetivo “apenas” proporcionar uma melhor qualidade de vida à eles. Quem sabe, com o potencial que o Jonathan vem demonstrando, possa vir a fazer um estudo científico com base nos dados obtidos com ele, desde que claro não comprometa sua qualidade de vida.

DUP: Obrigado.

Talvez ao ler essa matéria, você leitor, possa entender porque sempre nos surpreende a insistente pergunta ou afirmação : Quero um papagaio, mas eu quero um que fale! Buscamos incansavelmente uma ave com capacidade de vocalização, normalmente ignoramos  que a vocalização é apenas a externalização de uma mente com capacidade de compreender, questionar, sentir. Que mesmo os calados estão olhando, absorvendo e interagindo conosco o tempo todo.

Outro fator importante é que atender aos requisitos de qualidade de vida aumentam as chances do papagaio falar e desenvolver outras habilidades, porém não é garantia, algumas aves são felizes e saudáveis em seu silêncio. Estes estudos também nos levam a repensar o papel e a posição dos animais na nossa família, afinal, ainda é comum e aceito socialmente a expressão: “Mas é só um bicho!”.

Essa “inferiorização” da espécie dá licença a muitos cometerem abusos, dar tratamentos inadequados ou uma sub assistência. Acreditamos que nunca uma frase foi tão pertinente a estes resultados, como a famosa de Leonardo da Vince:

“Chegará o dia que todo homem conhecerá o íntimo dos animais. Nesse dia, um crime contra um animal será considerado um crime contra a própria humanidade”.

Devemos pensar se seres com tamanha capacidade cognitiva merecem se contentar com  um pote de água e comida, os mesmos brinquedos todo dia, e um pouco de atenção ás vezes quando o dono puder ou achar brecha em sua vida social.

Fundadora do Diário

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