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Planejamento compra de Papagaio – Pergunta do Leitor

6 de novembro de 2018

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Planejamento compra de Papagaio – Pergunta do Leitor

“Acompanho o trabalho do “Diário de um papagaio”, e gostaria de começar parabenizando vocês pelo trabalho e iniciativa, as informações que vocês fornecem são muito valiosas para nós tutores de aves. Estou planejando adquirir um papagaio verdadeiro (Amazona aestiva), porém já tenho um casal de periquitos tuins (Forpus coelestis), também já tive alguns agapornes no passado. Entendo que o contato direto (manuseio) com humanos não é um comportamento natural das aves, e por isso, não forço muito esse contato com minhas aves. Só de vê-los felizes brincando fora da gaiola e interagindo entre eles já me deixa muito satisfeito. Estou dizendo isso, porque não tenho expectativa de ter um papagaio super mansinho que deixa fazer carinho, mexer na barriguinha e essas coisas super fofas. Como trabalho o dia todo, dedico apenas em torno de 1 hora pela manhã com minhas aves (nas quais elas ficam fora da gaiola brincando e eventualmente elas sobem no meu dedo, fazem isso espontaneamente), eles aprenderam entrar e sair da gaiola sem eu precisar pegar ou tocar nelas, de noite quando chego em casa apenas cubro a gaiola e as deixo dormir. Durante o resto do dia eles permanecem na gaiola, que fica na sala de estar. Enquanto estou no trabalho ficam em casa minha esposa e filho pequeno, os periquitos ficam na gaiola mas podem acompanhar toda a movimentação e convivência da família. No final de semana, eles ficam o tempo todo fora da gaiola, sob minha supervisão. Gostaria de saber se um papagaio poderia se adaptar e vivem bem nessa conformação que descrevi para os meus tuins? Também gostaria de saber se o fato de haver outras aves no mesmo ambiente (mas em gaiolas diferentes) seria um fator positivo (distração) ou um fator de estresse para um papagaio? Esqueci de dizer, a compra do papagaio é um plano para médio prazo, pretendo comprá-lo daqui uns 2-3 anos, quando concluir meus estudos e meu filho estiver maior. De antemão, agradeço muito a atenção de vocês. um grande abraço Ricardo.”

DUP ———————

Boa Tarde, primeiro desculpe a demora em lhe responder, é que seu email não é fácil para mim, é normal querermos agradar e dizer o que a pessoa espera ouvir, e sei que muitas vezes ter uma ave dessa é um sonho, como por décadas foi meu também, então, não é fácil a responsabilidade de interferir nisso mesmo que seja apenas emitindo uma opinião.

Bem, talvez se falar da minha experiência possa te conduzir pelo meu olhar e me entender como vejo hoje as coisas inerentes a criação desses seres maravilhosos.

Desde criança quis ter um papagaio, mas venho de família humilde, moro na cidade e papagaio não era uma coisa fácil de achar, ao ficar adulta e já trabalhando, as leis mudaram, e até onde sabia, não podia criar em casa, quem tinha comprava caro por meios escusos em feiras, também lembro, que devido nossas condições, até mesmo os vendidos em feira eram caros para nossa realidade, tínhamos à época, outras urgências.

Em 2012 durante uma viagem, entrei num Pet Shop em Copacabana e foi ali, escrito numa plaquinha ao lado de um papagaio em uma gaiola que descobri que se podia ter um autorizado pelo órgão ambiental, ali plantou-se uma semente no meu coração.

Em 2014 ganhei finalmente meus papagaios Empada e Azeitona, não sabia nada deles, achava o fato de poderem falar incrível, comprei uma gaiola tipo chalesco M, pesquisei ração, papa, brinquedo e pode acreditar, nessa época eu acreditava de verdade, que isso era tudo que eles precisavam, ledo engano.

Também acreditava que era fácil alimentar, a primeira noite para dar papa sem experiência nenhuma, boa vontade e medo daquele bico forte, foi uma coisa de louco, superamos dia a dia essas dificuldades. Inicialmente os meus também ficavam na sala, papagaios tem a característica de espalha muito a comida, então se iam comer na parte superior externa do viveiro, derrubavam muita comida no chão, se estavam dentro, também conseguiam a façanha de derrubar no chão, em menor quantidade, mas sempre tinha sujeira ao redor do viveiro. Como queria que tivessem uma alimentação próxima com a de vida livre, além da ração extrusada, fornecia verduras e frutas, a tela do viveiro estava sempre com resto de comida, se você demora limpar dá moscas.

Convivendo com eles, observando seus hábitos, inteligência, foi me incomodando o tempo que ficavam na gaiola, mesmo com brinquedos, é de fato entediante ficar nessa situação horas por dia, todos os dias, decidi então construir lá fora um viveiro grande nas medidas de 2 de comprimento, 2.4cm de profundidade e 2.30 cm de altura,  foi perceptível a gratidão e o desenvolvimento deles quando puderam enfim ter maior conforto, espaço para dar pequenos voos e maior possibilidade de brincadeiras. Eles dormiam dentro de casa na gaiola chalesco, amavam tanto o outro viveiro que logo cedo pediam literalmente para ir para lá.

Fui aumentando o bando e dentro do meu coração o viveirão lá fora ainda me incomodava, talvez vá incomodar sempre, porque foram criados para os céus, porque por mais que eu dê espaço para eles, sempre me sinto roubando algo vital, necessário, importante e de direito deles que é voar, foi assim e também para garantir a segurança deles, que optei por telar toda área externa onde fica os viveiros, são em torno de 100m2 , hoje já não prendo mais nos viveiros, salvo se precise por algum motivo.

Então vamos ao ponto, não, eu não acho legal adquirir uma ave quando não se tem tempo, procuro sempre me colocar na situação do outro e fico pensando: seria legal ficar preso num lugar 10 horas por dia vendo a vida acontecer (na casa) pessoas passando, seguindo suas vidas, fazendo as coisas, dando xau, oi, olá pra mim e eu lá trancada? Eu te devolvo a pergunta, sabendo que são aves ativas, que voam quilômetros por dia, estão sempre ocupadas com algo, que são animais sociáveis, vivem em bando, sentem necessidade de interagir, você acha legal que fiquem horas presos?

Aqui tenho a parte da manhã para interagir enquanto coloco a comida, limpo os viveiros, reponho a ração, dou cafune, faço umas brincadeiras, a tarde, eles chamam novamente e fico exclusiva lá com eles de 3 a 4 horas até finalmente irem dormir, se porventura não vou, ficam bem chateados e os papagaios costumam demonstrar isso dando rasantes e petelecos na minha cabeça quando finalmente apareço no dia seguinte.

Quanto a questão das outras aves, é difícil determinar se vai dar certo, porque pode dar errado mesmo sendo da mesma espécie, depende muito também do temperamento da ave, algumas são mais quietas e quando colocadas próximas de espécies muito agitadas e barulhentas tendem a se incomodar, pode gerar brigas, quadros de stress e até arrancamento de penas causada pelo aborrecimento, o que costumo dizer sempre é: Tenha um plano B, ou seja, outro cômodo ou lugar para essa ave ficar caso haja problema dela com o bando.

O intuito não é te desestimular, mas sim te dar uma perspectiva e subsídios para que tome sua decisão, não sou a mesma pessoa, nem tenho o mesmo olhar para eles que tinha no inicio dessa aventura de conviver com eles, vivo num eterno e torturante conflito interno, que sabe que eles mereciam estar na natureza, não em casa, mesmo com a estrutura que dou, porém são grandes limitações frente a incrível e deslumbrante natureza, por outro lado, não brado contra a criação pet, visto que a natureza está sendo devastada, espécies sendo dizimadas, e sei que muitas seriam conhecidas somente por livros se não existisse o trabalho de criadouros (científicos, conservacionistas e comerciais), então ciente desse mundo louco que vivemos, espero que ao menos quando decidamos ingressar nessa empreitada que possamos nos empenhar ao máximo a atender a demanda deles de saúde mental e física, alimentação, estrutura. Abraços, te agradeço muito o contato.

 

 

Fundadora do Diário

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