O que Fazer quando achar um filhote
Estamos na temporada de reprodução, aqui na nossa linda primavera, toda a natureza floresce, reproduz, gera vida. Infelizmente é justamente nessa época que o tráfico de animais atua mais fortemente, além do traficante clássico que retira a ave da natureza para fazer comércio, temos que lidar também com outra parte da população que tem acesso a área de mata e retira os filhotes do ninho para si ou mesmo para presentear amigos.
Com a proximidade cada vez maior das matas, é comum ver animais silvestres livres em ambiente urbano, vivendo e se reproduzindo, nessas áreas mais arborizadas é comum nessa época do ano que ocorra por diversos motivos a queda do filhote do ninho. Antes de continuar discorrendo sobre o tema gostaríamos de deixar o relato de alguém que encontrou um.
Por Sandra Gonçalves Azevedo Lopes
“No dia de Finados de 2017, ao chegar na casa de meus pais, vi que havia uns objetos no chão escondendo algo, bem na área dos cães, e eles não queriam por nada sair de perto. Então devagar retirei do chão uma telha côncava, que permitia esconder algo por baixo dela, e dei de cara com um bebê de Brotogeris tirica, o periquito verde que a gente vê solto por aí. Peguei ele com calma, levei para dentro e procurei ferimentos nele. Nada, embora a asa esquerda esteja com aspecto mais caído e os olhinhos apertados de dor, choque, stress. Acomodei então o pequeno em uma caixa com uma camiseta dentro, para ele ficar confortável, e nos dirigimos para a clínica veterinária Vida Livre, sabendo que poderia ser qualquer tipo de ave. Minha primeira sugestão já foi de cara que fosse o Brotogeris tirica, ou então um Forpus, quem sabe uma Katarina. Então na clínica foi confirmado que é um Brotogeris tirica. Mas ele não passou numa boa pelo atendimento inicial, agarrou o cotonete da mão da veterinária, que queria olhar dentro do bico dele, o que é um procedimento padrão no atendimento a aves e logo depois soltou esse cotonete com sangue. Foi tenso, talvez o conflito com os cães tenha lhe causado ferimentos internos. Estava com um pouco dificuldade de respirar, então ficou internado para tratar. Na ficha da clínica ele precisava ter um nome, então coloquei Billy. Ele ficou o fim de semana internado, e hoje, 06/11 recebeu alta. Fui buscar, e seguindo a orientação dada pela clínica fomos direto para o Instituto Ambiental do Paraná, o IAP, onde ficou aos cuidados da equipe veterinária. O combinado com o IAP foi que se ele não tiver condições de voltar à natureza e ficar precisando de cuidados, eu tenho então interesse em ser a tutora dele. Agora é torcer que ele tenha mais chances de ser solto. Não estou escrevendo isso para ganhar elogios de ninguém, mas, para dividir com cada um minha experiência com essa situação. A gente sabe que ficar com um animal silvestre sem que este seja legalizado é CRIME, e que para esse fim existem vários bons criadouros legalizados que criam com a autorização do Ibama para que as espécies sejam preservadas e todos possam ter seus pets exóticos sem cometer crime algum. Entregar o Billy ao IAP era o melhor caminho, principalmente para ele. Claro que olhando a carinha linda dele dá vontade de ficar, mas ele não é meu para que eu decida. Se no tratamento que está recebendo lá ele não se adaptar à vida em liberdade, aí sim é possível cogitar que ele venha ficar comigo, com documento autorizando. Então você que lê isso, saiba que caso te aconteça de encontrar um animal silvestre que precise de ajuda, essa ajuda correta para ele é o Instituto Ambiental da sua cidade, senão você estará interferindo nas chances de ele voltar à natureza, e cometendo crime ambiental, em que você não só perde a posse do animalzinho, como responde criminalmente por isso. No meu caso nem foi medo de estar a cometer um crime, mas foi o respeito ao direito do Billy de viver e ser livre. Tão lindo, merece ter sua segunda chance de viver livre. Outra coisa importante, ao encontrar um animal silvestre precisando de atendimento veterinário, não fique tentando mexer nele, nem examinar, pois na melhor das intenções você pode acabar piorando as coisas. Coloque logo em uma caixa de papelão bem ventilada, mas que não permita que ele fuja. Leve para o IAP, ou faça como eu que levei para o veterinário primeiro, então lá fui orientada corretamente sobre o que fazer. Eu arquei voluntariamente com os custos da consulta e internação do Billy, por saber que embora ele não seja meu, merece uma segunda chance. Não dormiria tranquila se bem na hora que ele mais precisou eu tivesse me omitido. Pelo respeito à vida dele, faria tudo de novo.”
São muitos os motivos que levam a queda de um filhote do ninho, como também a frequência desses episódios, aumentam nessa época do ano, os filhotes podem cair durante um ataque de algum predador, podem também ser derrubados pelos pais em caso de doença ou deficiência (é normal o descarte dos mais fracos na natureza), vento forte e até entre brincadeiras por disputa de atenção dos pais ou comida entre os filhotes, algumas vezes é proposital mesmo, aquela hora que decidem explorar o lugar. Este esquema publicado pelo Parque das Aves (Foz de Iguaçu) mostra perfeitamente como agir nessa situação.
No momento que encontramos, temos como primeiro impulso a vontade de cuidar, proteger e levar para casa afim que tenham conforto e cuidados.
Veja se está machucado, caso não esteja, procure um galho alto ou lugar protegido e deixe lá, os pais com certeza estão por perto, porém se escondem da sua presença, e só vão aparecer quando você sair.
Novamente lembrando que só intervenha em casos que a ave está ferida e precisando de cuidados médicos, caso ela esteja em eminente perigo de ser atacada por predadores como gatos ou cachorros por exemplo procure um lugar seguro e alto para deixar.
Importante lembrar também que muitos caem durante suas primeiras aulas de voo, porém já estão emplumados e seus pais certamente irão ajuda-los a voar para um lugar seguro.
Enfim se não foi possível deixar para trás pelas situações mencionadas acima, resista a tentação de levar para casa, procure uma clínica para fazer o atendimento emergencial e encaminhe o mesmo para um centro de triagem, por ser ainda bem filhote ele tem todo potencial de ser reintroduzido na natureza, não tire as chances dele de usufruir de seu direito natural a vida livre.