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Diário de Viagem – Visita ao Criadouro Mandarim

7 de março de 2017

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Diário de Viagem – Visita ao Criadouro Mandarim

Bem , aqui foi um momento muito especial da viagem, não só porque eu sempre quis conhecer um criadouro de aves, mas principalmente porque era o Criadouro Mandarim, pertecente à Pedro Jose Teles por quem tenho um carinho, respeito e admiração imensos.

E esta aventura já se iniciou no aeroporto, no abraço apertado, no olhar no olho e você já se sente “Bem Vinda”…..Daí foram mais 3 horas de estrada com uma turma divertida, e Pedro ainda quieto, com certeza pensando “Esse povo é louco!” kkkkkkkkkk, mas olha, do meio para o final, muito antes de chegar no criadouro, aquele mineiro quieto, calado, já sorria muito e pensava “vamos ter dias felizes!”.

Sempre fiz planos de todas as coisas que faria se um dia fosse ao Criadouro, as fotos incríveis, os passeios,então você finalmente chega na sede. Uma casa típica de fazenda, simples, sem internet, sem telefone, despeja sua bagagem no quarto, vai na varanda e dá aquela respirada, ar puro, fresco, gostoso, e os planos? Sei lá, mudei tudo e só queria sentir.

Era por volta de 15h. A fome apertando, arrumam a mesa, gente, aquela galinha, eu sonhei com ela, o feijão,  o arroz, a salada, que delicia, que gostoso você passear seus olhos entre um prato que parecia manjar dos deuses, levantava a vista e via um mundão de verde, olha para os lados e sorria vendo amigos de verdade compartilhando a mesa.

Dizem que emprestamos a nossa casa um pouco de nós, nossa marca, personalidade, ali senti uma profunda paz, tranqüilidade, longe do barulho, agitação e interferências do cotidiano agitado das áreas urbanas, aquele lugar era o que seu dono Pedro sempre me passou, segurança, paz,  seriedade e verdade.

E fomos para o Criadouro propriamente dito, ali começava uma viagem para dentro de mim mesma, dos conceitos, crenças, do que eu achava que conhecia. O Criadouro foi projetado de modo a ter um corredor longo, com inúmeros viveiros um de frente para o outros, começamos pela ala onde ficam a maioria de aves oriundas de apreensão pelo Ibama, algumas de apreensões de traficantes, outras de apreensões de tutores que mantinham aves ilegais ou em situação de maus tratos.

Para mim foi a parte mais dolorida, escutar elas cantando músicas do cancioneiro popular, a música do time de futebol, palavras do vocabulário humano e saber que tiveram uma família um dia, que tinham brinquedo, companhia, um caloroso abraço, e se você que está lendo achou isso difícil, pensar na cena deles sendo arrancados de casa pelo fiscal, o medo que sentiram, o terror diante da incompreensão do que estava acontecendo, de olhar e ver sua família do outro lado em prantos e impotentes, se você achou que isso era o pior, ainda não era, não era porque iria andando mais um pouco me deparar com os mutilados, os cegos, sem dedos, sem asa, com problema de repicamento de penas, totalmente pelados, enfim, triste e de fato dolorido de se ver.

Nessa equação, ao contrário do que se pensa, e do que vejo muito desavisado falando, o Criadouro não é o grande beneficiário nessa conta, nem de longe o grande vilão, não é aquele que como vi pessoas acusando, recebe papagaios que foram tomados para revender ou fazer mais dinheiro com os filhotes, a situação é bem mais complicada do que pensam.

  1. Reprodução em cativeiro é bem difícil, esperar que ao juntar um papagaio macho e uma fêmea eles certamente irão reproduzir é uma prova clara que você não entende nada do assunto;
  2. Uma ave muito domesticada dificilmente se reproduz em cativeiro, o que torna ela uma despesa para o criadouro, não uma fonte de receita como muitos pensam;
  3. Inúmeros chegam aos criadouros gravemente doentes ou desnutridas, após investimento em tempo dedicado, médico especializado, remédio e alimentação especial, alguns conseguem sobreviver outros não;
  4. As aves apreendidas estão nesta situação porque o traficante ou quem comprou a colocou em situação de risco, elas foram jogadas nesta situação;
  5. Entendo que tirar uma ave da família é uma pena que pune muito mais a ave que o proprietário que cometeu o crime, porém, simplesmente imputar uma multa baixa, além de não punir, estimula o tráfico. Precisamos de leis rigorosas, com multas que de fato desestimulem o tráfico , por exemplo, uma multa de 10x o valor comercial da ave com obrigatoriedade do pagamento ou confisco dos bens;
  6. Aves silvestres da classe dos psitacídeos, se reproduzem o uma vez por ano, mas isto não é regra, tem anos que não se reproduzem;
  7. E sobre o preço tão comentado, quando vejo várias pessoas comparando valor das aves legalizadas, adquiridas de criadouro licenciado com o valor da ave advinda do tráfico e acusando o criadouro da pratica de preços abusivos, olha, de fato não dá para competir com o traficante, até porque o que ele vende é artigo de roubo, logo não há investimentos ou impostos compondo o preço. O traficante também não precisa manter uma estrutura dentro dos padrões do órgão fiscalizador, nem veterinário, biólogo,alimentação balanceada, remédios. O custo é zero para o traficante. Se pensarmos, o traficante só tem o bônus do fruto do roubo de nossa fauna.
  8. Acredito firmemente que, se como sociedade pararmos de dar desculpas das mais variadas para justificar o tráfico, inclusive as do “amor” e “sonho”, aqui tenho que fazer um adendo, quem ama não coloca o outro em risco, quem ama quer o bem, respeita, não arranca uma ave do ninho. Sobre sonho, ou desejo, vontade que você tem desde tenra idade, o que posso dizer é que lute pelos seus sonhos, mas que os realize da maneira certa, dentro da lei e respeitando o semelhante e o meio ambiente, ave não é artigo de primeira necessidade, não é vital para sua vida, então nada justifica comprar ao tráfico.

Voltando ao Criadouro Mandarim, seguimos nos vários corredores, encantados com a variedade de aves, a beleza das matrizes, as penas perfeitas e a oportunidade de ver ninhos e filhotes. Ver o carinho e respeito que Pedro Jose Teles demonstrava ao falar de cada espécie, suas características e particularidades nos fazia aumentar a admiração por ele e por seu trabalho.

Respeitar a natureza, as leis, o que é certo, o que é ético, e só ficar e desejar o que é seu, precisamos de mais disso em nosso país. Nunca vou esquecer da noite que escutávamos uma ave dentro de casa, era um casal de maritaca com filhote, aves de vida livre, e que com todo respeito do mundo, o criadouro a mantêm livre, ela fez ninho no forro dentro do quarto, Pedro ia lá e verificava o papo do filhote para saber se estava sendo alimentado direito ou se precisava complementar com papa. Ao longo da fazenda se vê muitas aves de vida livre, estas vivem e se reproduzem ali sem ser incomodadas. O Criadouro só vende os filhotes nascidos no criadouro, das matrizes do criadouro, preservando assim a natureza.

Queria ter fotografado mais, e pretendo voltar, mas me dei o direito de curtir o lugar, a boa energia, a bondade que emanava, a gratidão pela vida. Sei que foi um grande egoísmo da minha parte, mas naquele momento tão especial, num pequeno pedaço de paraíso, rodeada de amigos, natureza, silêncio quebrado por piadas, histórias, bobeiras e muitas gargalhadas, eu não queria estar atrás das lentes, eu queria viver aquilo.

A rede na varanda, o horizonte verde sem fim, o cavalo ao longe no pasto, e aquele barulho gostoso de passarinho…….

Vou ser eternamente grata ao Criadouro Mandarim e a Pedro Jose Teles pela acolhida, pela oportunidade, por dividir conosco um pouco desse tesouro.

Um dia acreditei que os lugares são especiais somente pelo que eles são, mas aprendi que o que fica na memória  e habita nosso coração, é a alma da pessoa que se mistura no lugar, que cria identidade, que empresta virtudes e dá beleza e viço, vi você meu amigo em cada pedacinho daquele lugar, parabéns pelo seu maravilhoso trabalho.

Criadouro Mandarim
Pedroteles@terra.com.br
whatsapp: 55+(34)9975-1618
www.criadouromandarim.blogspot.com.br

 

 

Fundadora do Diário

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